O grupo de pesquisa Vernaculum foi criado em 2018 com o objetivo de contribuir para a geração, o desenvolvimento, a transmissão e a aplicação de conhecimentos sobre os singulares modos de vida, saberes e fazeres vernáculos, tais como os relacionados aos processos de produção e reprodução das arquiteturas vernáculas.

Como é próprio aos principais estudos contemporâneos acerca do tema, as pesquisas realizadas pelo grupo Vernaculum têm estrutura interdisciplinar e fundamentação não apenas na Arquitetura e Urbanismo e seus estudos acerca das produções vernáculas, mas, muito além: na Antropologia e seus estudos acerca de conhecimentos tradicionais; na Arqueologia e seus estudos acerca do mundo material; na Conservação e seus estudos acerca da preservação e uso sustentável do patrimônio cultural e natural; na Geografia e seus estudos acerca da produção do espaço e reprodução social; na Sociologia e seus estudos acerca da hospitalidade; e na Turismologia e seus estudos acerca dos impactos do turismo em comunidades tradicionais, entre outros campos de conhecimento e saberes.

Nesse sentido, autores como Oliver (1990) têm defendido a importância de se compreender as arquiteturas vernáculas como sujeitas, fundamentalmente, às transformações advindas das necessidades das respectivas comunidades – em oposição ao entendimento de que a produção e reprodução dessa arquitetura se dê, ou deva se dar, sem transformações, algo impossível e talvez indesejável em qualquer manifestação cultural viva. Da mesma forma, Upton (1993, 2001) preconiza que os pesquisadores devem deixar de lado o sentido, algo positivista de tradição e autenticidade que ainda subsiste e buscar entender os significados das transformações no universo vernáculo. Bonner (2006), por sua vez, afirma que as grandes transformações e possibilidades de inovação nas sociedades contemporâneas não significam necessariamente o fim da tradição, mas, sim, sua continuidade em novas formas e conteúdos. Já Vellinga (2006), também identificando a necessidade de uma nova forma de compreensão do papel da tradição na arquitetura vernácula, entende-a não como estática, mas como um patrimônio em constante mudança na busca por adaptação às realidades específicas das diversas comunidades.

A arquitetura vernácula é, então, tida como uma manifestação cultural que tem como componente a sua própria dinâmica de transformação (Oliver, 1990) e, sendo assim, as transformações que nela ocorrem não devem ser vistas necessariamente como um “desvio”, mas como um fator fundamental para compreendê-la em todas as suas dimensões (Bonner, 2006; Upton, 1993; Vellinga, 2006). Vê-se, portanto, que o campo da arquitetura vernácula, ao discutir as transformações dessas arquiteturas, tem incluído cada vez mais a questão dos processos de sua produção e reprodução – estendendo-se assim para muito além de sua mera materialidade. Dessa forma, o campo da arquitetura vernácula, mais do que induzir uma convergência com outros campos de conhecimento, consiste, ele próprio, em uma convergência ou interface de campos.